Estamos a precisar de um Reboot

Tomás Sousa
10 min readJun 24, 2023

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A sustentabilidade é para todos e pressupõe compromisso.

Caro leitor,

Comecei a escrever este artigo em Junho de 2020, já lá vão 3 intensos anos. Nunca o terminei porque tenho dificuldade em fechar ciclos mas facilidade em abri-los. Acho poético lembrar-me de o terminar agora, com um pouco mais de contexto sobre o que se passou entretanto, mas há exatamente 3 anos. Segue-se o discurso de quando comecei a estar apaixonado por este tema e ainda bastante verde nas ideias. O que vão ler de seguida são ideias soltas que ficaram intocadas. Alguma ausência de excertos indicada com “(como introduzir isto)” ou “(colocar mais aqui)” estão presentes, assim como imagens que me serviram de inspiração e que de alguma forma ia contextualizar. Para mim isto é muito especial e espero também que o seja para quem passou pelo Reboot.

Vivemos numa época de divisão, opiniões extremistas e discursos ricos em apedrejamentos com pesadas palavras, acusamo-nos de demagogia e discursos de ódio com uma facilidade nunca antes vista. Discursos de união não costumam funcionar bem nestes cenário; um desprezo com um aroma de incompreensão paira no ar, mas o que se segue é imune a isso.

A realidade climática tem de ser globalmente reconhecida e devido ao suporte científico que tem, imune a opiniões.

Consequência de estudar ciência é compreender que crescimentos exponenciais trazem sempre uma história com eles. O crescimento económico (GDP) [1] assim como o populacional [2], são descritos com uma função exponencial. Então qual é a sua história? Este aumento abrupto está de mãos dadas com um da mesma forma na utilização da energia mundial e nas emissões de CO2. Isto são factos, não podem existir “lados” ou “divisões”, todos temos de garantir a atenuação destes comportamentos e criar um sistema económico e social que acelere a atenuação.

O tema da sustentabilidade está a ser sobre-explorado, já existem até termos como Greenwashing que são resultado direto do aproveitamento desta nova “moda”. Moda ou não, o foco tem de estar nas evidências e compromissos tomados por quaisquer entidade (individual ou coletiva). Às vezes a dificuldade está em apresentar estas evidências de forma clara e guiar os compromissos para todas as entidades a diferentes níveis. Pretendemos chegar aos “indiferentes” (como introduzir isto)

Então mas onde é que o Reboot entra aqui?

O que é o Reboot?

O Reboot é essa aceleração. Somos um projeto nascido de indignação, paixão e uma (feliz) natural tendência geracional de não estar bem com a atualidade. Queremos realizar eventos estilo talks: Reboot talks e uma exposição: Reboot exhibition (explicar melhor isto dps). Vem também da inspiração e visão de pessoas que nos ensinaram. Nascemos do TEDxULisboa, uma equipa que mudou a minha vida dando-me os meios para aprender todo o mundo da organização de eventos e do verdadeiro trabalho em equipa. Estas pessoas foram a Inês Ferreira e o João Apura, que durante a liderança do projeto da TEDxISTAlameda e posteriormente TEDxULisboa nos deram muito do seu conhecimento. O testemunho deles e apoio é fulcral para entender o que é o Reboot.

Inês Ferreira: “Em 2018, quando fundámos o TEDxULisboa, envisionámos uma organização consciente da sua pegada sustentável, desde financeira a ambiental. Além de promovermos a partilha de ideias que merecem ser espalhadas, procurámos também desenvolver projectos sustentáveis, que procuraram fortalecer o elo de ligação entre a sociedade e a sustentabilidade.“, Inês Ferreira, Main Organizer @ TEDxULisboa 2019

João Apura:“Enquanto organização jovem e pró-ativa, desde cedo que nos apercebemos que queríamos mais do que espalhar ideias — queríamos transformar ideias em ações, acelerando soluções para a crise climática atual, por um planeta mais verde, sustentável e feliz. O Reboot rompe com o conceito TED, ao desafiar as gerações de hoje, e de amanhã, a agir — e o mundo agradece!“, João Apura, Co-organizer @ TEDxULisboa 2019

Reboot Talks

Um evento focado nos 3 tipos de sustentabilidade: Ambiental, Financeira e Social. Cada um destes tipos tem 5 vertentes: Comida, Energia, Materiais, Natureza e Transporte. Pretendemos apresentar estas ideias em eventos estilo talks onde vários oradores apresentam combinações destes nas suas talks, por exemplo, um orador pode falar sobre: Ambiente-Energia & Social-Materiais. Sendo também assim mais fácil e prático para os participantes procurarem aquilo que lhes interessa e organizando um pouco todo o caos de informação que existe relativamente ao tema.

Reboot Exhibition (colocar mais aqui)

O que é sustentabilidade?

Um desenvolvimento sustentável pressupõe uma organização humana em cooperação com a Natureza. Pressupõe a continuidade do desenvolvimento científico com especial atenção à gestão de recursos e aos ecossistemas.

Mas não é só um assunto ambiental, é também social e económico. O equilíbrio que nos devemos dirigir está no intersecção destas três vertentes.

A sustentabilidade social tem em conta os processos, sistemas, estruturas e relações que suportam e incentivam as condições das futuras gerações. É o pilar a fortificar para garantir que comunidades futuras tem valores como: equidade, diversidade e maturidade. Sem um sistema social justo e espaços dentro das nossas organizações que o permitam é impossível o ser humano ter condições que permitam o desenvolvimento sustentável.

A sustentabilidade económica tem de ser baseada na criação de um capital natural, atribuindo valor financeiro aos recursos naturais, em combinação com uma gestão circular de serviços e recursos em geral. Enquanto a nossa economia estiver baseada no aumento ilimitado do GDP os recursos vão ser menosprezados e não vamos conseguir atingir o desenvolvimento sustentável.

Precisamos de uma integração destes sistemas rapidamente. O Reboot compromete-se a trabalhar no sentido de acelerar esta integração.

Sustainable development presupposes a human organization in cooperation with Nature. It presupposes the continuity of scientific development with special attention to the management of resources and ecosystems.But it is not only an environmental issue, it is also social and economic. The balance that we must address is at the intersection of these three strands.Social sustainability takes into account the processes, systems, structures and relationships that support and encourage the conditions of future generations. It is the pillar to be strengthened to ensure that future communities have values ​​such as: equity, diversity and maturity. Without a fair social system and spaces within our organizations that allow it, it is impossible for human beings to have conditions that allow sustainable development.Economic sustainability must be based on the creation of natural capital, attributing financial value to natural resources, in combination with a circular management of services and resources in general. As long as our economy is based on unlimited GDP growth, resources will be underestimated and we will not be able to achieve sustainable development.We need an integration of these systems quickly. Reboot is committed to working to accelerate this integration.

Olá de novo leitor, estamos de volta em 2023. Quero dar-vos uma visão do que aprendi entretanto.

  1. “A realidade climática tem de ser globalmente reconhecida e devido ao suporte científico que tem, imune a opiniões.” — Isto nunca é verdade, nada que seja verdadeiramente científico, mesmo com muito suporte científico, deve ser imune a opiniões.
  2. Entretanto aprendi a chegar aos “indiferentes”, não é nada fácil e requer horas intermináveis.
  3. Que os sonhos são setas em chamas que atiramos sem saber onde acertar, mas que com sorte nos indicam um caminho.

Melhor explicado pelo Mark Rowlands no “The Philosopher and the Wolf” [3]

The conception of time underlying the account of death I have presented is a familiar one: time’s arrow. The future is something we actually — and not merely possibly — have now, at the present time (whatever that means). And we have a future because we actually have — now — states that direct us towards that future: desires, goals, projects. Imagine these as arrows streaking into the future. Some of these arrows direct us into the future only implicitly: it takes time for them to reach their mark. To satisfy a desire, you have to survive long enough for the arrow of that desire to reach its mark. The desires of wolves and dogs are like this. However, some arrows are different. Some arrows are burning ones streaking out into the dark night of the future, and lighting up that future for us. Corresponding to these arrows are human desires, goals and projects that direct us towards the future explicitly by way of an overt conception of how that future is to be. Death harms any creature by cutting off the arrow of its desires in their flight. But death harms most those creatures whose arrows are burning ones.

Ao ler o texto que escrevi em 2020 percebo que algumas das nossas ideias inicias se tornaram realidade. Isto vai ser sempre ser um dos maiores orgulhos da minha vida. Em 2021 realizámos estas “Reboot Talks” com o nome de Circular 2021 que foi melhor que alguma vez poderia imaginar, com bilhetes a menos de 10€ em média oferecemos um evento na Aula Magna com dois coffee breaks, um almoço e uma panóplia incrível de oradores.

Em 2022 a exposição Do Prato à Terra, uma forma de repensar o nosso sistema alimentar, a tal “Reboot Exhibition”, uma metamorfose completa da ideia original.

Para além disso, no mesmo ano o documentário Sustento: Uma realidade insaciável, sobre o desperdício alimentar em Portugal, uma obra única que visa abordar um dos temas mais preponderantes da sustentabilidade ambiental, social e económica.

Foi para mim inspirador realizar estes projetos, só tenho a agradecer a todos que os realizaram, é na verdade para isto que este artigo serve, agradecer a todos que trabalharam no Reboot quando eu e a Sofia Grilo o fundámos até ambos sairmos em 2023.

O Agradecimento

Afonso Pereira, Ana Rita Fernandes, Ana Teresa Vieira, Beatriz de Sousa, Beatriz Oliveira, Beatriz Seixas, Bruna Soares, Bruno Alves, Camila Cameira, Catarina Bonnet, Catarina Fernandes, Catarina Loureiro, Carolina Almeida, Cláudia Carreira, Daniel Adónis, Diogo Primitivo, Filipa Campos, Inês Bernardino, Inês Borges, Inês de Almeida, Inês Morgado, Joana Falardo, João Ferraz, João Gonçalves, Laura Pereira, Lia Lopes, Margarida Apolinário, Margarida Miguel, Margarida Moreninho, Maria Hipólito, Maria João Fernandes, Maria João Santos, Mariana Faria, Mariana Lamas, Marta Gomes, Marta Oliveira, Miguel Guedes, Nuno Heitor, Patrícia Custódio, Pedro Fernandes, Pedro Perdigão, Rafael Outeiro, Raquel Santiago, Rita Gomes, Rita Pereira, Sofia Bettencourt, Sofia Grilo, Teresa Parreira.

Estas 48 pessoas já passaram e contribuíram imensamente para o Reboot, as pessoas a negrito ainda estão no projeto e por isso merecem ser sublinhadas. Obrigado, a sério, obrigado. Por acreditarem em mim e na Sofia, na nossa visão do projeto e, honestamente, do mundo. Obrigado por serem voluntários e espero sinceramente que tenham aprendido. Eu aprendi montanhas com vocês, aliás, a montanha mais alta de Marte [4] é anã comparativamente com que aprendi com vocês. Empatia, comunicação, liderança, qualidade, transparência e paixão foram todas características que cresceram porque me deram oportunidade para isso. A sustentabilidade é empoderar. É sair da zona de conforto. É ser transparente. É ser empático. É ser científico. É ser artístico. É exigente e por o ser às vezes precisamos de um Reboot.

Um agradecimento gigante vai para a Ana Castanheiro e Mónica Silva do Instituto Marquês Valle Flôr (IMVF) por acreditarem no nosso pequenino projeto quando este era puro potencial, o risco que tomaram não foi pouco, no entanto espero que o trabalho realizado tenha superado as expectativas, fizemos por isso. À Sandra Silva, Marta Cardoso da reitoria e ao reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, que desde do tempo do TEDxULisboa acreditaram em nós quase como se fosse garantido que qualquer coisa que fossemos fazer tivesse sucesso, um grande obrigado, sinto que a Universidade este sempre do meu lado.

Um dos meus maiores medos é que esteja a passar pela vida a um ritmo que não me permite desfrutá-la. Não sentir a tristeza nem grandeza dos momentos. É difícil processar tudo, honestamente ainda estou a tentar, mas ao longo deste tempo tenho-me apercebido que quando penso no Reboot vêm-me uma alegria de um ideal muito próximo ao meu coração e saudável para o cérebro.

Durante um pouco mais de dois anos eu e a Sofia trabalhamos a um ritmo alucinante para transformar os nossos sonhos de “um mundo melhor” nalguma coisa real, acho que plantámos umas belas sementes e colhemos umas quantas flores, cabe a vocês continuar.

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